terça-feira, 4 de maio de 2010

DEDENTRODOSMONTES

DEDENTRODOSMONTES ou do outro lado do Mundo foi o nome que encontrámos para designar uma espécie de ideia organizadora, comum a um grupo diverso e heterogéneo de cidadãos deste Nordeste. Começámos por nos encontrar numa tertúlia mensal, a fim de reflectirmos um conjunto de temas e problemas da nossa região, definida como Trás-os-Montes e alto Douro.
Tais temas e problemas têm tocado o desenvolvimento, a sustentabilidade, a globalização, o ensino, a educação, o planeamento, a arquitectura, a criação de riqueza, mantendo-nos abertos a muitos outros. Em suma, queremos ser uma reflexão sobre a viabilidade de nascer, viver e morrer em Trás-os-Montes e Alto Douro.
Propomo-nos divulgar as principais reflexões nesta página com uma periodicidade quinzenal. Estamos cientes que apenas quem decidiu viver nesta região poderá perceber a sua identidade específica, a sua originalidade mais radical, poderá construir um discurso próprio e autónomo, capaz de dizer as memórias, as possibilidades, os anseios e as esperanças das esquecidas gentes desta região, soltando uma voz que grite do mais profundo deste DEDENTRODOSMONTES.
Com efeito, esta região, do lado de fora, apenas tem suscitado uma vã curiosidade, mais ou menos exótica, de paisagens, pessoas, montes, vales, rios e lugares. Prolifera um discurso dominante que lhe é sempre exterior e meramente designativo.
Acreditamos num futuro para esta região, mais rico, mais próspero, mais justo e com consequentes graus de maior e mais efectiva autonomia, mas terão de ser os seus próprios cidadãos, de forma lúcida, criativa e estruturada, a cuidar das condições que viabilizem esse mesmo futuro.
A progressiva desertificação humana desta região é um facto indiscutível, sendo outro facto, não menos indiscutível, que o invocado maior desenvolvimento da actualidade tem agravado e reforçado as diferenças inter-regionais em relação ao actual estado de pobreza, abandono e dependência.
Percebe-se hoje que a globalização e o livre comércio tem constituído um modelo inibidor e empobrecedor das potencialidades regionais, encontrando-nos hoje numa espécie de beco crísico, mas que comporta o momento oportuno para reflectir e repensar uma região e o seu específico e singular modelo de desenvolvimento. Torna-se, por isso, imperioso procurar as soluções no interior da própria região, a partir das reais capacidades e recursos próprios. Não deverá ser esperado do exterior qualquer hipotético auxílio salvador, sempre prometido, mas nunca efectivado.
Estamos num tempo em que teremos de aprender a pescar e recusar os peixes; recusar as esmolas que cada vez nos tornam mais dependentes e mais pobres, exigindo que qualquer inter-relação exterior seja ponderada no deve e haver dos reais recursos da região, dentro de uma economia de auto-suficiência, sustentável, em que as trocas com o exterior possam e devam existir, mas dentro de um princípio de comércio justo.
Estará em causa a inversão de um princípio, que na União Europeia tem sido o da subsidiariedade, por um outro, que será necessariamente regional e que deverá assentar no equilíbrio entre o impacto das actividades humanas no território e a capacidade de regeneração desse mesmo território, preservando-se a sua sustentabilidade.
Em suma, queremos construir, viver e deixar Cidade, deixar um lugar onde o bem maior sejam as pessoas, conscientes de que um insignificante bater de asas de uma borboleta poderá virar do avesso as coisas do outro lado do Mundo.